sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Sentimentos Verticais.

Uma nova realidade assola as periferias de Sampa. Os terrenos baldios e algumas casas velhas estão sendo cercados por tapumes e tomados por construtoras. Em poucos dias enormes gruas levantam pacientemente concreto e aço até o topo dos espigões. Em meses tem-se um novo edifício que é rapidamente preenchido por uma gente sem rosto.

É dolorido especialmente pela falta que faz algumas paisagens. Havia uma casa alí que fazia a imaginação correr solta por outros tempos. O quintal cheio de mato com um roda de carroça parcialmente encoberta era o palco onde crianças de calção brincavam mil brincadeiras. Na varanda uma mulher deve ter passado tardes tricotando. Homens devem ter fumado seus cachimbos naquela sala que tinha uma porta com arco... Um tempo que a imaginação teima em fazer acreditar que era melhor do que o nosso. E talvez fosse mesmo. Pelo menos o recorte da paisagem devia ser suave e verde.

As casas ao longe davam uma impressão de tristeza sim. Porque cada uma devia contar uma estória. Onde não houvesse alegria entristecia todo o resto. A tristeza é constante. A alegria não. Mas os espigões são piores. Eles não despertam nada. Apenas tapam a luz do sol.

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